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A expectativa de fotografar por 24 horas!


Ostrossauro, Núcleo Mirada de Dança Contemporânea. Foto: Roni Diniz

A iminência da ocupação da Casa Tombada com a ação “24h Obra Procedimento" do Núcleo Mirada, traz consigo uma expectativa de singular vivência profissional e artística para mim e para muitos artistas que integram a equipe e públicos que comporão este pulsante corpo-vivo-experiência.

As ações de longa duração em arte abrem ao público e evocam, de forma ampliada, um lugar discreto e indissociável à vida dos artistas, não espetacular, e nem sempre conscientemente bem aproveitado, o Processo. Este campo de contato e garimpagens sob camadas mais profundas de um trabalho, não tão acolhidas ao roteiro formatado que delimita as margens do produto “espetáculo”, é invisível ao olhar impaciente e ávido pelo alívio superficial de anestésico consumo, é uma celebração à beleza, nem sempre tão plástica, de existir e “estar” com todos os conflitos e contradições que isto inclui (limites físicos, emocionais e etc.), um campo fértil, no qual uma concentração imensa de energia e foco favorecem o florescimento de uma obra, dilatações expressivas e reverberações potentes. Os olhares mais dispostos podem identificar o trajeto do “rio” desde a sua nascente, entre minguamentos e expansões, sutis ou bruscas, até o desembocar poético no indomável corpo-dançante-oceano, suas reações desencadeadas, internas ou às margens, maleável às superfícies e climas que tocam ou se deixa abraçar, a cada milímetro de seu deslocamento, minuto a minuto, enquanto o sol descende e ascende o horizonte em seu próprio tempo...

Tenho comentado em alguns textos anteriores como a conflituosa dualidade da fotografia de estar fora e dentro do que ela retém, bem como o seu poder atemporal evocativo da experiência, me fascinam e intrigam. A responsabilidade e o ímpeto quase inevitável de registrar e compor despretensiosamente, com meu olhar de fotografo e presença, o registro da canalização visceral e disparadora destes estudos, que começaram em torno do silêncio, tem me semeado os campos arados do subconsciente com mosaicos “ISO3200”* de imagens que se deslocam e se fundem de forma orgânica, não mais unicamente como páginas de portfólio e histórico de atividades sustentados sob os possíveis aperfeiçoamentos técnico de qualquer ofício que se esmera com o fazer e o estudo, mas numa massa viva e cósmica imaterial que por vezes ecoa um cíclico grito oco de marcha, um magnetismo que se desdobra, se embrenha e flui, uma rede sem fim de estímulos efusivos e transcendentais em toda sua simplicidade...

Que estado o corpo pode atingir como canal (meio) e emissor das comunicações e linguagens sinestésicas que desafiam a predominância virtual moderna, contraditória e estagnadora do corpo? Que lugar expressivo, ainda oculto, é explorável mediante o desafio de um mergulho e olhar de poros abertos por 24 horas?

"24 horas Obra Procedimento"

Local: Rua Ministro Godoy, 109, Perdizes

Ao Lado do Parque da Água Branca e próxima à estação Barra Funda do Metrô

Quando: a partir das 18h no dia 06/08 até as 18h no dia 07/08 (sábado e domingo) Entrada gratuita.

* ISO é a sensibilidade do filme (ou no caso da fotografia digital, do sensor) à luz, as faixas variam de 100 a 3200... O ajuste do equipamento para uma faixa alta se faz necessário para uma boa captação fotográfica em situações com pouca incidência de luz ou com movimentação, neste último caso, a fim de compensar a alta velocidade do obturador requerida, o que ocasiona a diminuição da entrada de luz resultando numa imagem granulada, com textura de “areia”.

Saiba mais sobre o Evento, Roteiro das 24h, etc.: https://www.facebook.com/events/1186578584726519/

Sobre o Núcleo Mirada: http://nucleomirada.blogspot.com.br/

Relatos sobre outros tipos de Obras de Longa Duração Marina Abramovic: http://www.ronidiniz.com.br/single-post/2016/04/22/Perguntei-%C3%A0-Marina-Abramovic

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