





Dia Nacional das Crianças


O choro
Performance
O choro
Eu choro a criança violada
Moralmente, física, emocional ou social,
A criança passado e a criança futuro.
Choro a criança precoce,
Digitalmente “adultizada”, sexualizada e “curtida”,
Choro a crônica indiferença paterna e a infância usurpada,
Choro o adulto mutilado que a traz no íntimo...
Numa birra, num olhar indiferente ou sádico.
Choro o bebê que tem que “merecer” o amor ao qual tem direito
Só por existir!
Choro a criança que "é" um fardo ou só mais uma boca a ser alimentada,
Choro o despreparo de pais irresponsáveis e teimosos e seus avós arrependidos,
Choro a dor desta criança que ainda nem sabe que a sente
E no seu grito estridente por leite que nunca vence, adormece...
Choro a covarde negação à natureza paterna e materna,
Choro a culpa e o perdão, choro pela cura e aceitação!
Choro, mesmo que em vão, pelo filho que terei e pelo que fui,
Choro a dor de ser pai e filho de um país displicente e superficial,
Choro frente ao soterramento dos instintos e direitos desta criança,
Sob nossa pressa, hipocrisia, arrogância e alienação política e humana,
Sob brinquedos plásticos, games, metas, regras e permissividades...
Choro pela violência de TER que vencer, corresponder e ser bom ou ”normal”
Só para ter o seu e o meu amor-próprio...
Choro pela desorientação omissa dos seus limites e transbordamentos,
Choro pela promessa não cumprida, pela bronca demasiada seca,
Pelo exemplo não correspondido, pelo acolhimento negado,
Pelo diálogo negligenciado e por não poder chorar,
Choro com a doença para ter o teu afeto, a fingida ou a aguda e mortal,
Choro em teus braços soluçando, batendo a porta ao sair ou sendo um filho perfeito
E em silêncio mortal, no veneno cancerígeno que circula em teu sangue,
Choro com rebeldia, gritos ou suicídio por tua atenção,
Choro, porque ainda insistimos em olhá-las de cima pra baixo e não pra dentro de nós!
E choramos em coro, sem lágrimas, derramando vingança inconsciente em nossos filhos,
Repetindo os teus golpes de indiferença e raiva ou excessos de melindre e controle.
Choro pelos órfãos de pais roubados pela violência, vaidades, preconceitos e “religiões”,
Pragmatismos políticos, culturais, étnicos e de gênero.
Choro rindo sobre a fantasia que você cria para me entreter
Enquanto me empurra seu remédio amargo e caro e me abandona de novo...
Roni Diniz
CONCEPÇÃO: Roni Diniz
INTERVENÇÃO em homenagem à criança.
Agradecimento: Simone Candido
Av. Paulista em frente ao Center 3.
12 de outubro às 16h.
Performer: Roni Diniz
Programa:
40 min de colo e choro silencioso à "criança" negligenciada.
Descrição:
Em plena avenida Paulista, dia das crianças, o performer se propõe a entrar em conexão com o símbolo da criança negligenciada. Lentamente, o bebê simbólico vai se desprendendo do seu colo até revelar uma bandeira do Brasil que cai ao chão. Um Q-R Code no assento direciona a esta página virtual com o poema O Choro que completa a obra e a hashtag #OChoro, na manta do bebê, nomeia a obra.
Postagem no Blog com trechos do diário de bordo:
http://www.ronidiniz.com.br/single-post/2016/10/18/O-Choro-performance-Di%C3%A1rio-de-Bordo