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Sobre as lições e satisfações de ser tio


DOS MISTÉRIOS: Ele tá fazendo 8 anos! Me lembro quando, conversando com minha cunhada, grávida do primeiro filho, ela me falava brincando sobre o receio de o bebê nascer com aquele cabeção típico de nós nordestinos kkkk, então, como num flash de intuição eu afirmei com uma certeza rara e estranha, a qual nem eu entendia, que ele seria uma das crianças mais lindas da família e contra todas as possibilidades “seria loiro e teria os olhos azuis”! Ela perguntava sorrindo como isso seria possível se nem ela nem meu irmão são assim... E eu sabia menos ainda o que significava o que eu vi e disse. Seus pais me deram a honra, meio sem opção, de escolher o nome Caio! Nome que significa “contente”, “alegre”, e não vemos nada que o te defina melhor, pois mesmo quando está doente, ardendo em febre, permanece ligado no 220V e não pára de sorrir e brincar... Como eu sou grato por ser TIO, este “lugar” que não é nem pai, pois não tem nem um milésimo das responsabilidades e preocupações deles, mas pode sentir amor paterno e estar nos melhores momentos e em outros não tão bons também, porém sem o peso de “educar para a vida”... Como eu aprendo com este menino! Aprendia ao vê-lo crescendo a cada ano, e na sua semelhança física comigo mesmo até os 3 anos, os mesmo cachos dourados e silhueta, ouvia alguns parentes dizerem: “ Nossa, mas é todinho o Roni nesta idade!” Nesta fase era inevitável que eu imaginasse ou lembrasse a criança que eu fui, aonde eu estava nesta idade ou naquela, com quem e como, como foi estar lá e como é estar aqui, não para atribuir valor comparativo, mas talvez para colher alguns pedaços que ficaram perdidos por lá e cada vez que eu te fiz dormir quando você tinha o tamanho do meu antebraço e ganhava o prêmio por te acalmar, quando os seus pais cansados pareciam um pouco rendidos, confesso que também era como enviar luz à minha criança que também passou de colo em colo... Eu aprendia quando distinguia junto com seus pais os traços marcantes de personalidade que você já demonstrava desde bebê, o que parecia ser do pai, da mãe e dos tios e avó, na nossa família os filhos tem esta mania de puxar traços físicos e de personalidade dos tios, talvez em todas né?! Esta mistura de medidas únicas e irreproduzível, insubstituível que você se torna ao dar o seu toque pessoal neste caldeirão de hábitos e personalidades com os quais você pinta seu jeito especial de ser e nos surpreender!

Quando você chegou não havia um quarto te esperando naquela casinha pequena e eu pensei imediatamente que era minha hora de partir para um novo ciclo, abrindo espaço para aquela chegada especial, mas seus pais se recusaram e reafirmaram não abrir mão da minha presença ali até que eu “me casasse”, me senti importante! Mas já sabemos que eu não esperarei exatamente este evento meio imprevisível para alterar as rotas do meu rumo a qualquer momento, mas o fato é que eu não tinha percebido tão conscientemente ainda o presente inestimável que eu estava recebendo ano a ano ao também escolher permanecer aqui, também por outros motivos é claro, e ainda não estar construindo a minha própria família...

Dentre outras cores, este presente que recebi de ser tio tem cor de um sorriso pendurado na janela quando eu chego e um som de “Tiooo Roni!”, ao que eu, chatão, sempre respondo: “Sobrinho Caaaio!” Tem cheiro de brincadeira de esconder mesmo quando eu chego, às vezes cansado, suado, estressado, cheio de home office pra fazer e entramos no acordo de fazer só duas ou três partidas, aquela brincadeira na qual eu te cubro a cabeça com o cobertor e te giro, caminho com você pela casa e te deixo no cômodo x, onde você tem que descobrir aonde está sem olhar. Agora você já tem a casa toda mapeada na mente e nem tem mais tanta graça, mas é bonito observar como você conserva ainda o mesmo encantamento por este desbravamento. Aprendo quando ao me irritar quando você fica narrando cada coisa que você está fazendo na sua partida imaginária de futebol (louco por futebol!), te provoco também narrando as folhas de alface que estou lavando e cortando pra salada e, de repente, te vejo comprar a fantasia e transformar a feitura da salada numa grande aventura tão divertida quanto seu jogo imaginário, mas também, de repente, tudo acaba, por que você quer cortar do seu jeito, embora haja o perigo de cortar seus dedinhos, se emburra e sai, simplesmente sai por que deu seu tempo naquela atividade e não é a hora ainda de aprender certas regras. A gente entende por que você é criança, mas por que não fazemos assim também depois de adultos? E nem sempre respeitamos os outros que decidem sair, "desitir", mudar? Forçamos-nos a ficar além da conta, mesmo que isto nos adoeça? Você é uma criança esperta, embora ingênuo e doce, às vezes genioso, não atura ser adulado quando está bravo, não tolera manipulações, destas que nós adultos costumamos cair na tentação de fazer uso para domar a crianças e o seu lado mais selvagem. Que bom que seus pais não são destes, mesmo se fossem, que bom que muito cedo eu também aprendi que cada criança vem exatamente com os pais que precisa ter para aprender o que precisa aprender e é bom não interferirmos, exceto em caso extremos é claro! Eu sei, pode parecer meio injusto às vezes, mas é algo que eu nem me atreverei a tentar explicar, pois há pouco tempo nem eu entenderia isso.

Como entender uma criança de três anos assistir quieta a uma peça de teatro de mais de três horas pra ver o tio Roni por 20min? E pra explicar para ele não se assustar quando entra aquele bicho de capa preta e voz rouca, pois é só o tio Roni fazendo um personagem mau?

Aprendo quando você me surpreende escrevendo suas falas ao invés de falar (tagarela que é) e me explica que está experimentando fazer o retiro de silêncio que experimentei e me ouviu contando aos seus pais. Aprendo quando certa manhã, mais ou menos aos 4 anos, você estava recolhendo o cocô dos cachorros com a pá, imitando o que via o seu pai fazer toda manhã. Quando você sai cantarolando do seu jeito um dos mantras que eu escuto "Ong Namo Guru Dev Namo" ou “Espírito, espírito que desce como fogo, fogo...”. Quando me irrito ao te ouvir tanto falar de Patrulha Canina e ao me perguntar aonde guardar os brinquedos eu te sugiro, ironicamente (como adoro ser), que você guarde os brinquedos no banheiro ao lado da privada em um cestinho que fica lá, um tempo depois ao me ver com minha câmera na mão, todo cuidadoso, você me sugeriu que eu guardasse-a advinha aonde? KKKKKK

Fico chocado quando ao me ver concentrado e sério tentado treinar uma sequência de dança no quintal de casa você quer arrumar algum jeito de participar, vem me ajudar, filmando pra eu poder conferir se acertei e no fim, estamos sobre o colchonete olhando o céu ou dando risada das nossas caretas no celular! (foto). Quando ao ensaiar um texto de Shakespeare no qual o duque Teseu descreve seus cachorros selvagens você me surpreende interpretando-os como se fossem filhotes de Husky. Dou risadas quando vejo em sua teimosia o retrato perfeito e infantil deste galho da família Diniz, a irritação por não aceitar perder com facilidade, mas também o calor do abraço e de um carinho repentino que eu gostaria que você nunca se esquecesse de dar e receber, sem se importar com o que o mundo acha, como alguns de nós já nos esquecemos de fazer e por isso, às vezes adoecemos sem saber o por quê! Quando de repente, você me ouve falar um palavrão mesmo com todo o esforço que eu faço em não dizê-los, por que não tenho o costume, por respeitar minha casa e a conduta de seus pais, aí eu tenho que me explicar, com aquele risco de parecer incoerente ou hipócrita, que mesmo que você veja eu ou outra pessoa fazer algo errado, convém sempre refletir sobre as consequência antes de imitar, ou melhor: “Se você me ver comendo um tolete de merda, não vai fazer igual, vai?” kkkkkkk E depois sou eu quem está refletindo no que eu fiz e disse... Será que são as crianças quem realmente precisam aprender conosco?

Eu fico atônito ao perceber o quanto você capta mais quando não é ensinado, como você entende desde pequeno a alteração no tom de voz e na frequência energética nossa e realmente nunca precisou de disciplinas mais fortes. Eu te irrito te desafiando a desenhar outras coisas que não os repetitivos brasões dos times de futebol e, de repente, você me faz um desenho incrível de mim inclusive com a minha careta em tempo real, revelando que tem os mesmos talentos. Me diz que quer aprender a minha dança e me deixa um selfie vídeo gravado no meu celular com o seu treino da sequencia! Colar rótulos em embalagem de água deionizada pra você é colar figurinha, mas só enquanto durar a sua empolgação com a brincadeira, por que sairá sem culpa. A melhor retribuição de um presente que já dei foi notar como você ficava vidrado com o vídeo retrospectiva que fiz pro seu aniversário de 3 anos, você não cansava de ver e rever a sua história em fotos, desde a barriga da sua mãe, decorou o refrão da música “Você está em meu coração” do Filme Tarzan que escolhi para o seu vídeo, mais pelo meu gosto e correria ao fazer o vídeo do que pelo seu ou dos seus pais e virou um símbolo destes seus primeiros anos. Você também representa um pouco de cada sobrinho desta família e os sobrinhos do coração em suas fases distintas, alguns já casados, mas que nos proporcionam experimentar um pouco destas posições, meio pai, meio irmão mais velho, meio criança também, meio aborrescente...

Caio, o que você vai ser quando você crescer? Engenheiro como a sua mãe, empresário e empreendedor como seu pai, artista como o tio ou nada disso? Pra mim interessa muito mais perceber e apreciar exatamente o que você é a cada dia! É único! Talvez o Caio não tenha idade nem paciência pra ler este texto, talvez isso tudo seja mais pra mim mesmo ou pra você que me lê... Quem sabe? Feliz aniversário Caiozinho!

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Vídeo Retrospectiva de 3 anos: https://youtu.be/NRfPvf8jqQM

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