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Acolher o trauma para Transmutar - Espetáculo MÃE, um Não ao abuso!


Espetáculo MÃE no CEU Casa Blanca

O processo que embasa o Espetáculo MÃE começou em maio de 2016, a partir de um olhar que eu considero mais consciente e maduro sobre os meus próprios desenhos produzidos espontaneamente desde criança, notando a imagem recorrente de mulheres em situações de abuso. Este processo me levou a tentar compreender o subconsciente coletivo que absorvi desde criança, minha relação comigo mesmo (meu lado Yin), com a perda da minha mãe com 1 ano e 4 meses (sou pernambucano, um local, no qual, percebo a cultura muito mais naturalizada ainda no machismo e no abuso às mulheres) e me a aprofundei numa compreensão não-linear e sem julgamentos do universo feminino e da energia Yin, os abusos atrelados, presentes também internamente no homem, claro que numa esfera mais indireta, muitas vezes podado de demonstrar suas emoções e vulnerabilidades, sob estigma de manifestar uma pose artificial de macho alpha como permuta por pseudo aceitação social, que muitas vezes se apoia na cultura de estupro, na homofobia e na misogenia como um ciclo cruel e vicioso. Quem sabe se o homem moderno redescobrisse o seu papel social e rearmonizasse seu lado Yin - tudo que é tido como "feminino" -, ele não seria naturalmente compelido a uma nova postura de respeito às mulheres, como se estivesse tocando em seu próprio corpo e este corpo fosse amado e honrado?

O complexo Materno

"A influência mais acentuada do complexo materno não solucionado, no homem, é a dificuldade que este encontra em relacionar-se com sua anima. A anima é o arquétipo do relacionamento interno, ou seja, é responsável pelo contato do ego com o mundo interno e a qualidade deste contato determinará qual vai ser a qualidade do relacionamento do homem com o mundo externo, com as outras pessoas (...) É também, o arquétipo que representa o lado feminino no homem mas sua a principal função, segundo Jung, é a de instrumentar o homem, quando reconhecida, para seu autoconhecimento conduzindo-o no seu inconsciente, promovendo a relação entre seu ego e seu mundo interno. Portanto, o reconhecimento da anima é um fator decisivo do processo de individuação.

(...)

A anima é aquilo que o homem desconhece nele mesmo, se o que ele conhece é seu ego masculino o que desconhece é sua anima, seu feminino, Jung expressa-se, quanto a este aspecto, da seguinte maneira: “O que não é eu, isto é, masculino, é provavelmente feminino; como o não-eu é sentido como não pertencente ao eu, e por isso está fora do eu, a imagem da anima é geralmente projetada em mulheres.”"

Fonte: Artigo O Complexo Materno Não Resolvido, No Homem, Causa Dificuldade No Relacionamento Com Sua Anima Por Vanilde Gerolim Portillo (http://www.portaldapsique.com.br)

PESQUISA

A pesquisa foi transpassando por questões diretamente das mulheres, em torno de assuntos delicados como o estupro e a maternidade e outras mutilações metafóricas (chamo de estupros sociais) rumo ao arquétipo maior da Mãe: nosso planeta! Faço uso de poemas autorais e de trechos de O Canto das Mulheres do Asfalto do Carlos Canhameiro e a Ciranda das Mulheres Sábias da Clarissa Pinkola Estés, autora do famoso Mulheres que Correm com os Lobos. Acredito humildemente que eu não poderia dissertar eficazmente muito mais sobre isso do que o que fala o corpo em cena, fala muito além até do que a figura de um homem experimentando estes assuntos em cena de coração e alma expostos, o corpo chega até onde as palavras não alcançam. Curiosamente, cada vez mais eu percebo que quanto mais mergulhamos em nosso interior, mais dissolvemos as barreiras e nos aproximamos verdadeiramente uns dos outros na essência, aprendemos mais a distinguir o que de fato é do que projetamos, acho que percebo mais hoje o quanto somos conectados na essência e talvez realmente a cura das relações venha a eclodir quando reaprendermos a nos relacionar primeiramente conosco mesmo sem abusos... Como artista, cidadão, filho, homem e humano, sigo buscando sem medo dos erros, ou melhor, acolhendo os medos e erros também e dançando com eles (anima)... O espetáculo foi se configurando em um formato não-linear, por meio de pistas intuitivas, alimentado diretamente pelas minhas experiências pessoais e artísticas, pelos feedbacks ditos e não-ditos de cada um dos experimento feitos e o modo como os assuntos que recebiam o meu foco, foram se apresentando e falando por si só, numa espécie de caos simbiótico.

Assim, o experimento cênico transita entre outras linguagens além do teatro e que compõem a minha formação artística como a dança, performance, meditação, desenho e poesia, deixando que flashes do inconsciente venham emergir diante de nós, o que é meu e o que é nosso, pode ser percebido de acordo com o grau de abertura e percepção do público... Assim, ao reunir coragem para me deparar com a dor e o trauma destas figuras femininas feridas que misteriosamente sempre habitaram o meu mundo interno, me sinto mais próximo de um equilíbrio da minha energia masculina também, que se torna mais pura e desidentificá-se da figura doentia, superficial e abusiva propagada massivamente de como um homem deve ser e muitas vezes ainda é contraditoriamente cultuada socialmente, isso se clarifica a cada vez que avanço na compreensão do Yin, da "Anima"... Pois Yang é sempre o seu oposto, correspondente e vice-versa, um necessita do outro, somente quando dançam que fluem. É como se nascesse um novo homem, aprendendo com a MÃE em suas diversas faces, dentro e fora...

A aproximação do arquétipo maior da MÃE também tende a nos fazer rever a relação com o nosso planeta e ancestralidade, uma experiência de "reconciliação" que se aproxima da espiritualidade no sentido de consciência cósmica universal e não-religiosa. É neste "lugar", onde hoje eu sinto que a arte pode e deve atuar, pois sempre partiu de lá, não negando o Método e o racional, mas transcendendo para um campo mais sutil e livre, de onde talvez também brota a densidade do caminho fechado que tentamos abrir aqui... Para mim, este mergulho no universo feminino e suas dores e graça, não é outra coisa se não propor a transmutação do abuso, começando a ouvir estas mulheres primeiro em meu próprio universo interno e por meio da expansão de consciência, uma reconexão com a essência que clama por voz...

“A ARTE NÃO É A IMITAÇÃO DA VIDA

Artaud quer portanto acabar com o conceito imitativo da arte. Com a estética aristotélica, na qual se reconheceu a metafísica ocidental da arte. ‘A arte não é a imitação da vida, mas a vida é a imitação de um princípio transcendente com o qual a arte (também pode) nos pôr em comunicação.’ Jaques Derrida” (Citação no Programa da peça Blanche de Antunes Filho).

A última apresentação no dia 29/05/2018 foi em homenagem às Mães é claro, foi fruto de inúmeros insights que me levaram a reconhecer o momento de retomar este movimento e propor "sozinho" esta apresentação à Gestão do CEU Casa Blanca e da EMEF (a EJA Ensino para Jovens e Adultos) que acolheram a iniciativa. A experiência me deixou por um bom tempo ainda atônito após esta "reestréia", talvez como quem aterriza de um vôo transcendental ou como quem emerge do abismo profundo, de um ventre sagrado, com alguns traumas e muito amor... Sem mais a dizer e tanto a sentir e trocar ainda mais! Agradecendo o esforço e a intuição de cada um que esteve presente na platéia como pôde ancorando esta super onda e vazio sublime... Eu nunca me esquecerei dos silêncios, entregas e recusas (são temas difíceis e dá para perceber como mexe com todos, homens e mulheres assim como mexe comigo), risos e soluços que ouvi e senti da platéia, aquele coro firme mantrando o fim do abuso e encarando os olhos e nudez da alma da pessoa ao lado! Que ilusão é achar que em algum momento atuamos só! Nunca! Nem num monólogo, nem num solo! Nunquinha! Que ilusão é o controle! "Como faz pra voltar?" foi o que me disse o medo quando vi a galera entrando e me dizerem a grande quantidade de pessoas e público espontâneo! Em plena terça, com este caos da falta de combustível e da greve dos caminhoneiros?! Sim o melhor momento é o agora e com o que se tem! A responsabilidade e o medo pesaram, mas eu a convidei a experienciar a vida sem maquiar ou julgar o que era erro ou acerto e acalmei esta criança na medida do possível, mas não sem relutâncias.

Que prazer é a entrega e a consciência que observa e aprende! Eu amo aprender e também partilhar com quem quer receber e se permite mergulhar, estes ao receberem me dão muito mais e não sei mais quem tá dando ou recebendo! Já dançou assim?! Ah a surpresa dos anjos repentinos que chegaram e me apoiaram tão generosamente! Anderson Mendes Santos e Eliane Diniz. O Hélio Junior que trouxe toda sua luz linda, com o perdão pelo trocadilho! O Marco Antonio que além de trazer junto consigo a memória da minha primeira apresentação oficial como ator neste mesmo palco em 2007, fez um lindo registro fotográfico. A sagrada irmã Barbara Branco e a Hukena Yawa pelo amor e força sagrada feminina do Tonguerê, canto precioso que trouxe o amor e liberdade do Beija-Flor na trilha para embalar a caminhada e polinizar os corações. A Marjorie Fonseca, Nicole Portanova e Verônica Magalhães Leal Bitencourt: talvez umas viagens três peças inesquecíveis que duraram um ano cada e uma Paidéia falem um pouco do nosso amor partilhado! Nilton Junior e Rodrigo Vicente que vieram de longe, Solange Vokurka com seu olhar terno e beleza de Mãe entregando as mudinhas de Agave Americana no final da peça, Ysabelle Fussatogawa e Bia Fussatogawa, minhas gêmeas do coração! Uma família inteira amada que atravessou a cidade e trouxe junto tanta "Força", Mãe, Pai e Filho e Filha, aiaiai Claudia Maria, Paulo, João Gabriel, Amanda Rachel! Néia e Samanta que me acompanham desde os primódios <3. Mas pra me deixar no chão, minha irmã Rosete Maria que veio me assistir pela primeira vez :o , justo nesta viagem em carne viva, representando esta faísca sagrada que é minha família (cada família também é) e se reflete no todo, no social, na nossa árvore e em quem somos... Minha cunhada Claudete Silva de Almeida um pouco mãe, preciosa e amiga do coração! Se me esqueci de citar alguém, deixo a vibração que fala mais e mais forte do meu sincero agradecimento.

Os Alunos e Professores da EJA (Ensinos de Jovens e Adultos), fizemos um bate-papo incrível!

Lançamos no mesmo dia a Campanha de Financiamento Coletivo no Kickante, que já está com apenas 49 dias restante e apenas 3% alcançado por enquanto! A campanha é para financiar mais apresentações pelos CEU´s, um em cada Zona da cidade. Como eu poderia alcançar este sonho se não contando com o seu apoio e caso não possa contribuir financeiramente, saiba que a divulgação é OURO e não hesite em fazer barulho!

Nas minhas redes, estou tentando me acostumar com a avalanche de post sobre a campanha, trabalhando forte e me permitindo aprender formas de fazer o que precisa ser feito com leveza, amor e alegria, convido você a se juntar nesta força-tarefa, desde Já agradeço de coração! O que mais é possível Universo?

Vídeo da Campanha

Fotografias da Apresentação no CEU Casa Blanca

Com parentes amigos do teatro e Professores da EMEF do CEU Casa Blanca

Mudas de Agave Americana doadas após o espetáculo. Para os astecas a planta é representada por uma Mãe com 400 seios em posição de parto.

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