top of page

Que demanda esconde o impulso da Rotulação?


Rotulação. Foto: Roni Diniz

Quem nunca sentiu a dor e injustiça ao perceber que te atribuíram um rótulo apressado e pobre demais para resumir a singularidade de um ser tão complexo quanto o humano? Quem nunca percebeu que a “ideia” que tinha de alguém mostrou-se rasa e totalmente equivocada ao passo que teve a chance de submetê-la ao teste da convivência, seja para o bem ou para o mal? Já se perguntou como funciona este danado deste padrão de rotulação?

A superficialidade das relações, os rótulos publicitários principalmente, os culturais, artísticos e etc. sempre me deixavam inquieto e já foram temas de alguns trabalhos artísticos de grupos independentes que integrei como o espetáculo de dança Facebunda e a peça #SomosTodosOtelo. Até que comecei a perceber que o hábito de rotulação está muito naturalmente ligado às habilidades da mente de categorizar, o que geralmente é uma habilidade boa, dependendo do contexto, principalmente para quem fotografa, comunica, estuda algum assunto a fundo, escreve um texto como este que você lê,

defende uma tese, a etiquetagem, a comparação, fazem parte de qualquer estudo e podemos dizer que a matéria-prima do teatro e da arte em geral é a vida não é mesmo?

Bem, por volta de 2016, também comecei a perceber que o “mal da rotulação” estava ligado a outro padrão moderno e principalmente urbano: raramente conseguimos viver o momento presente! A mente anda sempre a frente de tudo, etiquetando, esboçando a próxima reação, lidando cada vez mais rápido com os imprevisto, como estratégia de proteção e “otimização” do tempo, até que nos tornamos muitas vezes como zumbis andando pelas ruas, insensíveis, anestesiados da vida… Estas observações me deram uma das bases para os experimentos performáticos de “Permeável”, uma espécie de ritual artístico que criei com a intenção de me tornar novamente permeável e provocar o público por contraste e presença despretenciosa, fazendo uso de princípios como a meditação, a respiração, o conceito de “não espetáculo” e a expansão da dilatação sensorial, tudo isso me fazia passar cerca de uma hora e meia sentindo a vida, ainda que de um jeito bem inusitado e não apenas com o olhos e caderninho, mas disponibilizando todo o corpo (treinando isso), alma e coração, ainda que em meio a apatia do público que dificilmente “entenderia” a obra do jeito que normalmente estamos acostumados, artistas e público, a lidar com nossos encontros que também se tornaram tão padronizados e “validáveis” ou não… Permeável se libertava até da expectativa de querer comunicar qualquer coisa em prol da necessidade de sentir o que existisse ali e viver...

Recentemente, fazendo aquela faxina nos hds encontrei o link de um vídeo que assisti há muitos anos atrás, me encantei por tratar do assunto do rótulo sem o polarizar, entendendo de uma maneira simples e informal o impulso, relacionando-o com o hábito de não viver o presente e revelando que sim, Ohhh! Rotular e não ficar no presente em determinados momentos, com equilíbrio, também pode ser importante demais dependendo das nossas necessidades...

"Você estuda os Próprios Padrões de Pensamento?"

“Os nossos pensamentos podem se concentrar tanto no passado, como no momento presente ou no futuro. Vamos examinar o que normalmente acontece em cada uma dessas escolhas. Será que nós ficamos com raiva por causa de coisas que aconteceram no passado, ficamos irritados com algo que aconteceu alguns momentos atrás, ou até mesmo há alguns anos atrás? Nós podemos criar filmes mentais sobre situações vergonhosas, podemos viver novamente as situações injustas do passado... Mas não é só desgraça que prende a gente no passado, podemos passar horas e horas pensando nas boas lembranças, quem nunca? O problema de ficar deitado na cama com mil preocupações na cabeça é que desperdiçamos muita energia. Sabe quando você está no caminho do trabalho pensando: Será que eu tenho que fazer isso? Será que é melhor fazer aquilo? O que é isso? Até pode parecer produtivo porque a gente tá pensando em algo importante. Mas se você pudesse escrever todos esses pensamentos, daria para perceber que são ideias repetitivas, preocupações, medos e nem sempre tem fundamentos! São ilusões, são jogos mentais que a gente joga dentro da nossa cabeça, nós temos a tendência de nos preocupar demais com coisas que podem acontecer no futuro e até medo do que não vai acontecer no futuro. Passamos horas pensando sobre as coisas que a gente tem que fazer e o que acontece? Ficamos ansiosos... Por outro lado, também podemos sonhar, podemos esperar coisas incríveis e viver aqueles filmes mentais imaginando como tudo vai ser lindo e maravilhoso ou podemos colocar o nosso foco e nossa consciência no momento presente. Por quê?

Viver o momento presente melhora o nosso desempenho e aumenta a nossa consciência! Quando a gente se concentra no presente, não estamos julgando, apenas sente, ouve e vê as coisas do jeito que elas são. Sem adicionar camadas de interpretação, julgamento, não estamos classificando, não estamos rotulando... Aceitando as coisas do jeito que elas são. Os rótulos são atalhos para evitar todo aquele processo cognitivo, a gente usa uma fatia fina para tomar decisões muito rapidamente com quantidades mínimas de informação. Como se cria essa fatia fina? Usando experiências passadas, pesquisamos a nossa base de dados e preconceitos e passamos a rotular as pessoas e julgar compulsivamente. É olhar uma pessoa por alguns segundos e logo em seguida escolhemos um dos rótulos do nosso arsenal e “Pam!”, rotulamos! “Fulano é assim”, “Fulano é assado!”. Estes rótulos desumanizam as pessoas, a gente não vê mais o que está vivo nelas... O que vemos é um conceito! “João é fazendeiro”, “Pedro é tímido”, “Lucia é feminista!”, “ Este motorista de Táxi é imprudente”, “Este vendedor é manipulador”, “Júlia... Ahh Júlia é uma boa esposa!” Para cada um desses rótulos atribuímos um conjunto de expectativas, tem coisas que eles devem e que eles não devem fazer... E mesmo sem perguntar, sem estar no momento presente experimentando o que tem de vivo nas pessoas, eu já posso presumir o que eles fazem, o que pensam, tudo com base nesse julgamento, nesses rótulos... Essa é uma razão a mais para nos concentrarmos no momento presente! Viver o presente é perceber as coisas como elas são, viver a vida como ela é. Tem muita gente por aí procurando por técnicas e treinamentos para estar no presente.

"Nem tanto o mar, nem tanto o céu..."

Será que isso tudo significa então que é errado ficar pensando sobre o passado? Que é ruim pensar e planejar o futuro? Será que é perigoso classificar as pessoas? Tudo depende, depende do que a gente quer com isso? Vamos nos perguntar quais são as nossas necessidades! Por exemplo, será que eu preciso reexaminar um comportamento passado para aprender algo útil e então alterar as minhas escolhas atuais? Nesse caso faz sentido ter foco no passado, pode ser útil! As pessoas mudam... Se eu preferir relaxar, parar de me preocupar com relação ao futuro... Talvez eu perceba que a minha mente estava me torturando. Neste caso, pode ser útil me perguntar se tem alguma ação concreta que eu posso tomar com base nestes pensamentos. Pois se não há nada a ser feito, será que vale a pena ficar quebrando a cabeça? Será que este turbilhão de pensamentos não está me causando ansiedades, dores? Meu corpo está ficando tenso... Se não há ação específica a ser realizada agora, o foco no futuro pode não ser muito útil. Talvez seja mais saudável sossegar e seguir a diante! Será que eu posso ter mais alegria me conectando com as pessoas agora? Vivendo o momento presente, experimentando elas como elas são? Ou será que é necessário rotular para tomar uma decisão rápida? Será que a vida não seria mais maravilhosa se eu escolher não julgar essa pessoa?

Com o tempo é perceptível que as habilidades mais preciosas da vida requerem prática e estar no momento presente também requer! Sem preparo, fica muito fácil se perder e passar horas viajando ou no passado ou no futuro... Use uma pergunta bem simples que vai te ajudar: “Quais são as minhas necessidades?” Uma vez que eu sei, com clareza, quais são as minhas necessidades, eu já posso parar de me preocupar... Torne-se mais consciente dos seus pensamentos, sempre que perceber que está pensando muito, tente entender, que tipo de pensamento é este? Preocupação, medo, raiva, ansiedade, qual é o propósito desses pensamentos? Qual é a necessidade por trás deles? Neste momento, não se culpe por ficar pensando muito, por enquanto, basta entender um pouco mais sobre a natureza desses pensamentos, isso vai aumentar a sua consciência!” Seiiti Arata

Assine e receba um lembrete de cada nova postagem no seu e-mail!

Visite o meu Canal no Youtube: https://www.youtube.com/outraslatitudes

POSTS RELACIONADOS:

46 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
Encunciado.jpg
bottom of page