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Homenagem aos 50 anos de carreira do ator Flávio Porto, Cia Paidéia!


Tive o privilégio de unir meu depoimento pessoal à homenagem feita aos 50 anos de carreira do ator Flávio Porto! Prestada pela Cia Paidéia, após a apresentação da peça “Coração de um Boxeador” do autor Lutz Hübner, sábado passado, 11 de junho, a qual, juntamente com o ator Rogério Modesto e sob a direção do Amauri Falseti, o Flávio encena há quase duas décadas, um texto lindo, profundo, atual e comovente, com uma montagem que eu não canso de ver e rever, desde o primeiro ano que eu conheci a Paidéia em 2011. No final de semana que vem acontecerão as últimas apresentações desta temporada (confira mais informações nos links no fim do post).

“O Flávio Porto é parte da nossa história do Teatro”, introduziu Amauri Falseti diretor da Cia Paidéia. O Flávio estreou profissionalmente em 1966 no teatro oficina com a peça “Os inimigos” de Máximo Gorki e direção de José Celso Martinez Correa, tem 48 anos de carreira teatral e já participou da Cia São Jorge, atuou com Antunes Filho, Giani Ratto, Victor Garcia, Lima Duarte, Paulo Autran, Amauri Falseti, Mário Maseti... Tem 30 filmes em seu currículo, trabalhou nas produtoras Vera Cruz e na histórica Boca do Lixo. Roberto Santos, Hermano Penna, Walter Khouri, Leon Hirsman e Mário Kupermann são alguns com os quais já trabalhou. Na Cia Paidéia, participou de 11 peças sob a direção de Amauri Falseti e a partir de 2002, assumiu como um dos atores coordenadores de um dos Núcleos de Vivência Teatral da Paidéia aberta aos jovens com processos de pesquisa e montagem de peças anuais.

Eu tive a satisfação de conhecer o Flávio Porto em 2011, quando me inscrevi e iniciei a minha participação no Núcleo de Vivência, neste ano criamos, sob a direção do Flávio, cenas e intervenções sob o tema “Educação”, ao qual todos os grupos se dedicaram e em 2012, trabalhamos sob o tema “Sustentabilidade”. Abaixo, no próximo parágrafo, com fragmentos destes processos, compartilho o meu depoimento pessoal que se uniu aos de outros “ex-alunos” e colegas de elenco nesta homenagem emocionante e merecida. Após os ricos dois anos e alguns meses com o Flávio, eu também estive em duas outras experiências marcantes com outros atores da Cia, o Valdênio José juntamente com a Suzana Azevedo montando cenas do Terror e Miséria no Terceiro Reich de Bertolt Brecht dentro do tema “Liberdade e Democracia” da Cia e em seguida, Sonho de Uma Noite de Verão com o Amauri Falseti, diretor da Cia Paidéia, no ano em que todos os grupos homenagearam Shakespeare montando cinco de suas peças. Alguns sempre me perguntam sobre o processo de Vivência de Teatral da Paidéia, então, aproveito para escrever um pouco e compartilho os links do site para quem se interessar também no fim deste post. O objetivo deste núcleo de vivência não é a formação profissional de atores, mas sim proporcionar uma experiência concreta do fazer teatral que inclui a criação, montagem e a encenação de espetáculos teatrais inseridos no repertório de espetáculos da Cia e de espaços para os quais são frequentemente convidados, são oferecidos cursos, oficinas, atividades artísticas diversas, palestras, diálogos e encontros, tudo gratuito como complemento ao trabalho! Assim como o Programa Vocacional de Teatro e Dança, gratuito da Prefeitura, nos CEUS’s e Centros Culturais, que eu também participei, eu super considero, indico e convido todos os interessados em teatro a conhecerem a Paidéia e esta experiência e contato com estes artistas e profissionais! É uma excelente maneira de se iniciar uma carreira artística, entender um pouco mais do que tem por trás da realidade de uma companhia de teatro, de um processo de criação de uma peça, ou mesmo para jovens e adultos que simplesmente desejam ter um maior envolvimento com arte e cultura e buscam um espaço para se vincularem, se potencializarem e direcionarem sua veia artística em um trabalho em grupo e tudo o que isso envolve.

“Quando pensei em dizer algumas palavras em homenagem ao Flavião, imediatamente me vieram à mente “cenas”. Uma de nossas manhãs ensolaradas de sábado, andando lá fora, segurando um espelho daqueles de moldura laranja, deitado abaixo do queixo. Me lembro de meus primeiro pensamentos críticos, ansioso para construir logo um personagem, sem entender a função daquele exercício, de repente, num lapso da mente, olhando de relance as nuvens e céu azul refletidos no espelho abaixo do meu queixo, eu me senti pisando sobre as nuvens do céu, eu também vi flores flutuando a minha volta, eram aqueles cachos de flores pendurados no corredor aqui ao lado... Talvez eu poderia dissertar sobre este “jogo” , mas prefiro ficar com a riqueza da sensação apenas e o quanto isto representa o Flávio, é uma questão de entrega, de vivência, não de racionalizar. Também fico com tudo o que eu aprendi e descobri junto com ele e os meus grupos desta época, graças a este espaço de experimentação, de encontros e vivência que é esta Paidéia.

Rapidamente vou parar em outra experiência marcante. Chegando à Sala Vermelha, sentamos em roda, cartolinas e lápis de cor ao chão para a turma mais velha dos grupos! Era 2011, ano em que todos os grupos da vivência voltavam olhos, mente, boca e coração ao Tema Educação. Naquele dia, o Flávio nos conduziu a um reencontro com a criança que fomos um dia e ainda somos dentro de nós, a emoção correu solta e este pedaço real de nossas vidas compôs o mosaico desta grande peça que misturou todos os grupos e olhares num só chamado uníssono às mudanças que ainda queremos e temos tido a chance de ser.

Mas a mais marcante e po-lê-mi-ca experiência... Foi em 2012, “Sustentabilidade” era o tema, falo por alguns comentários de gente que eu respeito e pela minha própria experiência. Para darmos vida a uma tribo estranha de índios, ao invés de “vestir”, nos despimos, seminus (corpos bem comuns e diversos), com pinturas indígenas sobre a pele, exposta e sensível à violência do mundo, pele crua, sob estas luzes deste espaço, caminhamos para a morte, buscando em nosso DNA, asfaltado de civilização, impermeabilizado de sentidos, impermeabilizado da chuva de sentidos, algo que ainda temos de nossos avós índios, como tinham aqueles índios que cometiam suicídio voluntário na época do genocídio dos Guaranis Kaiowás em 2012. Caminhamos até a frente do público, um a um, e éramos mortos instantaneamente pelo olhar de cada um da plateia, formando uma pilha de índios mortos que em seguida renascia como árvores e gravetos, compondo uma mata densa, vagina de onde nasceu Macunaíma para contar aquela história. História muito doida (um herói mau caráter e sua nação, condenados à sede e socorridos pelos personagens do folclore brasileiro, cuja única arma que tinham eram estilingues carregados de pedras invisíveis apontadas ao público) muitos de nós também não compreendíamos racionalmente e não sabíamos explicar tão claramente. Mas um chamado tão forte que dialogou conosco e não tínhamos dúvidas ou receios, pois sentíamos que aquilo era nosso. O Flávio sonhava em contar esta história outras vezes e nós também, porém aquele ciclo se fechou. Mas afinal o que acaba? O que realmente acaba? Será que esta peça que assistimos aqui acabou mesmo? Ainda vive em nós, com a honra e o prazer deste encontro que é uma referência forte para mim de como é bom e arriscado ter coragem de permitir que os fluxos de nossa essência se esvaiam, é cada vez mais raro, cada vez mais necessário.

O Flávio sempre nos dizia “o teatro é duro!”, trouxe-nos certa vez um texto chamado “o tesouro é o trabalho” em francês. OBRIGADO Flávio!“

Acabei encontrando uns links bem legais sobre o Flávio e compartilho aqui, confiram:

Entrevista sobre sua experiência com o cinema: http://www.cronopios.com.br/content.php?artigo=11681&portal=fotocs

Pauta no site da Cia Paidéia sobre os 50 anos de carreira do Flávio: http://www.paideiabrasil.com.br/index.php/home/19-cia-paideia-equipe/31-flavio-porto

Informações sobre o Projeto de Vivência Teatral com Jovens da Cia Paidéia: http://www.paideiabrasil.com.br/index.php/cursos/curso-de-vivencia-teatral

Vídeo bem bacana feito para uma Campanha para o Festival Internacional de Teatro, descreve bem a utopia da Paidéia: https://www.youtube.com/watch?v=IYhtUnRoGN0

Últimas apresentações da Peça "Coração de um Boxeador": https://www.facebook.com/events/274991252849012/

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