Para inaugurar este abril belo e quente, vou compartilhar um pouco sobre a minha experiência curta, porém intensa, com a maquiagem! Muitas pessoas já me perguntaram sobre algumas postagens de maquiagens de caracterização que eu postava enquanto fazia o curso de Arte Dramática no Senac, dentre dúvidas e curiosidades sobre o próprio curso... Então vou começar falando sobre esta competência do Curso e um pouco do que apreendi com o professor e grande artista Ivon Mendes! O curso tem um módulo dedicado à maquiagem, o que eu achei singular, não imaginava que para ser ator poderia ser tão importante dominar pelo menos o básico desta competência! O Módulo se chama “Maquiagem e Caracterização da Personagem” e até quando eu o fiz tinha uma carga horária de 40 horas o que resultou em 10 aulas semanais, ou seja, dois meses e meio, mais duas aulas de atendimento que ganhamos por sermos uma boa turma, risos. O fato é que, enquanto fotógrafo, no passado, já andei tentando me aventurar com a maquiagem de beleza e percebi que não é brinquedo não! Os tipos de maquiagem, a estética, o estilo, os formatos de rosto, meu Deus! Ainda, por cima, apesar da minha experiência inerente com o desenho, tenho a mão trêmula e não conseguia passar o pincel com segurança sobre a pele móvel das pálpebras... Em fim, quando achei alguns parceiros para fazerem a maquiagem para mim quando eu pegava trabalhos de book, respirei aliviado! São amigos muito competentes como Josué Loreno e o Erick Pavesi (super os indico!). Fotógrafo já tem muita coisa para se preocupar embora tenha mesmo que saber falar a língua do maquiador e acompanhar tudo de perto. Talvez um dia eu me aventure mais neste ramo! Nas aulas do Senac, o primeiro choque foi quando fomos avisados sobre o preço da maletinha de maquiagem, na época (uns dois anos atrás) em média R$ 500,00, já fomos instruídos repetitivamente desde o primeiro dia do curso a fazermos uma caixinha para isso! Embora o Senac tenha nos fornecido um kit básico e disponibilizasse uma maleta coletiva durante as aulas, a maior parte do material, teríamos que fazer o investimento mesmo. “É fundamental que cada ator tenha o seu próprio material de trabalho, até mesmo por questão de higiene e independência”, foi uma das primeiras lições, também constatei o valor prático disso quando passamos pelas experiências com as peças do exercício cênico e da montagem final no curso! Passei algumas tardes andando muito pelas ruas do Centro e da Liberdade até completar minha maleta, muitas dicas, muitas opções, muitos preços, só pondo a mão na massa mesmo para entender esta parte... Na primeira aula, além de explicar claramente a diferença entre o intuito destas aulas do curso e a desejada maquiagem de beleza, o Ivon também nos ensinou um pouco sobre o universo clown e suas simbologias, mostrou-nos livros e fotos de referências e nos deixou bem livres com os materiais e com nossa criatividade para fazermos nossa primeira maquiagem! A minha foi um total desastre hahahaha! Relembrei da minha dificuldade de precisão com o pincel e fiz uma lambança com a ClownMakeup (a popular Pinta-Cara, torrezinha de tintas cremosas que lembram batom na consistência). Apesar de ter uma boa dose de seriedade no trabalho e ser bem metódico, o nosso professor nos deixava extremamente à vontade e não nos sufocava em momento algum com seu vasto repertório e conhecimentos, nos estimulava a experimentarmos, frisava constantemente a importância de não nos podarmos, não nos boicotarmos previamente, não nos recriminarmos antes de fazer alguma coisa e por aí vai... Eu particularmente achei sua didática muito boa! Foi um encontro inspirador! Assim como na fotografia e no palco, temos liberdade sim e precisamos entrar num certo fluxo criativo, se não tudo vira um porre, porém, precisamos antes, desenvolver e saber o valor prático de ter a “disciplina de um soldado”. Algumas regrinhas básicas eram: manter o material organizado, na mesa, tampar cada coisa após o uso, certa vez uma garrafa de água sem tampa foi chutada acidentalmente e outro dia perderam a tampa de um dos produtos, não me lembro qual, como as tampinhas são importantes! Lavar os pincéis sempre após o uso, não guardar as esponjinhas do pancake (pó umedecido usado como base na maquiagem teatral, um verdadeiro rebolco, risos) molhadas porque mofam, acho que não aprendi muito bem esta lição até hoje, hahaha! Não é frescura o lance das marcas, no caso de maquiagem, realmente faz toda a diferença na praticidade e na qualidade! Planejar um caminho antes de fazer a maquiagem, de preferência ter algo de referência, desenho ou foto, mesmo se mudarmos algumas coisas ou os objetivos durante o trabalho é muito importante não partir do vazio... Ahh o ritual de fazer a barba todos os dias com prestobarba, coisa que eu evito ao máximo, mas era importante, já estávamos em um momento de aprendizagem e a nossa tela era o rosto! Enfim, cada semana era um desafio novo! E eu curto! Aprendemos algumas maquiagens principais e mais usadas, cujas etapas e princípios nos dão base para fazer e criar qualquer outra! Era triste apagar as maquiagens no fim das aulas, era o resultado de em média quatro horas de trabalho, muitas vezes íamos fazer o lanche após as aulas com a maquiagem na cara e tinha gente que ia maquiado pra casa, imagina a reação das pessoas na Rua Voluntários da Pátria e na padaria? Num dia um bando de vampiros e no outro um monte de idosos invadindo tudo! Era muito divertida esta parte. E no final do módulo tivemos duas avaliações que ficamos livres para escolher qualquer tema. A minha primeira maquiagem, “homem de gelo”, acabou dando muito certo e foi mais complexa do que a última, tinha até aplicação (colagem de acessórios, usei cacos de caixinha acrílica de cd para fazer cacos de gelo na testa) e para a última avaliação, planejei uma coisa muito mirabolante, após uma longa pesquisa fiquei impressionado com uma máscara de rosto triplicado que aparece no clipe da banda Florence + The Machine, Shake It Out, um lado sorrindo e outro triste, o do meio neutro, algo meio teatro, meio trindade. Para isso, eu fiz o molde do meu rosto de gesso previamente em casa, pretendia fazer dois rostos meus de látex, para colar em ambos os lados do meu rosto real e depois de tudo, fazer o efeito de tintas coloridas escorrendo, inspirado na obra do fotógrafo Alexander Khokhlov e Maquiagem de Valeriya Kutsan que eu conheci em 2007 quando fazia o curso de Designer Gráfico :O. Não deu certo! O molde de gesso ficou com uma textura horrível das ataduras, usadas no processo de fazer o rosto negativo e aí, acabei fazendo somente as tintas escorrendo, o que já me rendeu uma trabalheira só, fui um dos últimos a terminar, o que não era muito raro de acontecer, já que sou um tanto perfeccionista, muitos “coleguinhas” ainda me zoavam dizendo que eu só derramei as tintas na cara, é mole? Kkkkkk Mas no fim, gostei muito do efeito, era muito expressivo e as cores pareciam veias, achei que me expressou tão bem que uso até hoje como foto de capa no meu Facebook e, detalhe, me rendeu nota muito boa! Eu nem lembrava que tinha nota os trabalhos, tamanho o prazer e seriedade, com os quais eu levava as aulas. Numa próxima postagem vou compartilhar as etapas deste trabalho memorável... Eu ainda tenho alguns projetos de Body Painting engavetados, para experimentar mesmo, no entanto, quando eu tinha tempo, não achava as cobaias ou quem eu convidava não topava (é que tem que usar o corpo como tela o que exige nudez total!) e quando eu achava almas caridosas em prol da arte, eu não tinha tempo ou não tinha dinheiro para comprar o material que usaria num corpo inteiro... Uma hora sai! No mais, aprendi e percebi uma das formas mais belas que o teatro interage com outras artes, a maquiagem, meu horizonte se abriu, percebi “uma” das formas de como o repertório de ver obras de pintura e conhecimentos de história da arte podem ser diretamente úteis ao teatro. Como a maquiagem faz toda diferença em alguns estilos de teatro e como as artes são mesmo essencialmente ligadas, uma influenciou ou se combina com outra, assim como o ator que bebe em todas as fontes!
Foi muito terapêutico e prazeroso fazer cada uma daquelas maquiagens eu adoro um desafio, gosto muito de mergulhar fundo em alguma atividade que me instiga e encanta, me esquecer do mundo enquanto estou criando! Era como acontecia durante aquelas quatro horas mágicas de cada maquiagem...
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