
Medo da própria morte, é do que padece o homem que se apaixona,
Seu amor é a maior meta do coração, clamada desde a sua essência
Mas também é o pânico de perder-se de si diante do imponderável,
Tanto medo sentiu que o perder-se já é fato consumado!
Tantos desertos cruzou e agora fisgou-se na miragem feminina que o seduz no deserto
Por entre o toque sedento da própria língua que rasteja pelo céu da boca, deglutindo a própria saliva...
Sua mão sinuosa e quadris serpeam, kundalini que enfeitiça o olhar.
Ele já não sabe se ainda é quem olha ou é quem dança, fundidos que estão…
No gesto sutil da mão estendida a altura dos ombros, dançam os elétrons nos átomos e palpita o meu coração!
O que importa se é uma conexão de olhares que sincronizou nossa respiração ou é um beijo que se desenrola?
A razão acusa de inverdade a aproximação da miragem surreal que de fato corresponde ao olhar…
Se é miragem ou realidade, a utopia também conduziu o buscador até a fonte!
Só a verdade e a fonte saciam o coração, mas você me indica o caminho!
A ilusão também ensina o caminho por contraste!
Assim o ego também ensina o que é a essência,
A sombra ensina o que é a luz...
Quando a fantasia se esvazia toda ou se preenche enfim, toca a linha tênue do real que se materializa!
Gesto sutil da tua mão mulher: dançam os íons como a síncope do meu peito.
Eco da criação da mente que me reencontra agora e me surpreende cara a cara.
Estou dentro do meu próprio poema que, apaixonado, escrevo no éter
Ou é um ritual no qual nossas almas se reencontram mesmo aqui e agora?
O que fica da experiência se não o eco?
O que é o eco que viaja em ondas sonoras e no perfume, se não a saudade e um convite ao reencontro?
O que é o eco se não toda forma de arte que emociona e faz vibrar o peito de quem se deixa penetrar?
Estando longe ou perto do estopim disparador.
Eco tal qual aquele que a ciência postula pela comprovação e repetição até se tornar saber, previsível,
Tornar-se status de caminho mais seguro que encurta jornadas, evita os riscos
Ou abarrota as livrarias e distrai o viajante...
O que importa se são letras que a minha mão sussurra e geme em pensamento ao exalar essas letras
Ou se é mesmo o teu corpo que eu toco e beijo ao mesmo tempo no qual reescrevo minha consciência
Através do teu corpo e alma que também sou eu agora?
O que é a palavra se não também um eco da existência efêmera que a mente tenta capturar e organizar em vão?
Se é intenção, um desejo concretizado aqui agora ou daqui cem anos?
O que importa se este eco que nos conecta é um flerte tímido
Ou teu olhar certeiro que me toca a nuca chamando-me até ti?
Um encontro: o todo brincando de ser partículas que se magnetizam apaixonando-se em um delírio de amor,
Até fundirem-se de novo e de novo...
Se quer celebrar o êxtase de graça divina que te encontra após o longo jejum no deserto…
Como se dará cada reencontro de partes?
Entre suas escolhas racionais e o impulso vital do chamada da natureza?
E se sou agora um lamento em forma de canto cigano que antecipa o calor da primavera em pleno e austero inverno....
Ah e se eu for a ponte entre a geada e o abrigo quente!
Se sou a contradição que encantou ambas polaridades e fecundou-lhes os úteros?
Ou se sou o próprio ventre fecundo que pariu agora estes versos ou pintou o quadro deste jardim?
Se sou consciência nascida no orgasmo das polaridades reunidas e misturadas em amor?
Se pulsei como diafragma convulsivo e naturalmente correspondente ao corpo que canta desde tão longe...
Ah corpo que não sabe mais se é quem canta ou quem ouve, dança, vê...
Se sente a dor na própria carne ou se apenas a entende como um coração materno...
Dor profunda que se esvaziou, perfurando por entre as entranhas até tornar-se êxtase glorioso e crístico!
Amor que se esgarçou até o desafio de conhecer o ódio e a saudade!
Brincou perseverante de ampliar a consciência por todos os seus extremos,
Só para se conhecer e amar mais íntegro e consciente ainda!
Morreu numa nota de violino choroso até se esvaziar de ar e ouvir seu eco desprender-se ad infinitum...
Renasceu aqui nos cuidados do pai que protege o ninho com a própria vida, seu corpo é também a mãe e a própria cria!
Dança que ensina em um gesto puro e vibrante o que a mente faliu de tentar registrar e discorrer.
Eco capaz de te deixar obcecado pelo registro: ouro tolo das palavras que distraiu o buscador da fonte…
Mas também o mapa que guiou o peregrino até que este ouvisse o próprio guia interno.
Eu mesmo sou e você também é o eco da criação divina quando também cria e pari,
Recebe o sopro que sacudiu os cabelos, fez planar as asas e inspirou os ciclos naturais.
Saborear o gosto da sede, fundir-se aos desertos e sentir queimar nas costas cada gota de chuva:
Respingos de percepção e memórias.
O toque de cada pingo é dor e é êxtase que desperta cada parte tocada.
Dança que descobre cada músculo ignorado do corpo, outrora frígido, automatizado e encurtado...
A mãe que pergunta ao filho quanto mais ele ainda quer aprender ou voltar ao seu colo quentinho que o aguarda, Enquanto ele ouve seu corpo finito clamar por eternidade.
Apaixonado, ao tocar teus pés de dançarina, também sou o filho que se derrete em gratidão e reverência
Diante do eco da própria mãe!
Ouço e também sou você que me questiona num olhar sisudo se é tudo para “isso”...
Gero infinitos pensamentos para esboçar um gesto que os nossos corpos sempre souberam e eufóricos,
anseiam por nossa entrega!
Beijo-te a testa feiticeira e nos diluímos um no outro enquanto me encontra
o eco que orienta a deixar a energia elevar-se:
“Não resista ao encontro, deixe a energia fluir até o divino!”
Reconheça o amor que une e se dê o próprio tempo e espera pelo outro ou por si...
Afinal, por que encontrar outro alguém se não para tocarem juntos seus opostos e próprio espelho agora refletidos bem a frente?
Para então, na dança de ser um e dois, fluírem até Deus, até tocarem juntos o tambor da criação…
Amante e pessoa amada; quem vê e quem se inspira; ou em qual corpo quer que repouse dois corações que se anseiam e enfim se encontram...
Encontro físico que desperta a fusão interna ou integração interna que desperte a física e cósmica...
Sonho que brotou até a realidade ou a matéria que evocando-o, esculpiu aqui um sonho...
Músculo que se recusa à dança, ouço-o e o amo assim, até que chegue seu tempo de se entrosar
e também compor a dança!
Olhar que dissimulou o próprio magnetismo, não será agora, mas será depois… Em qual tempo? Será!
Já fui quem vê e quem é visto, já me derreti assistindo e já entreguei-me em cena!
Prostituta que concedeu seu corpo a quem nem soube o nome,
Doou seu ventre e sua criação, não por dinheiro, mas por essência e assim, sagrada foi...
Peça de Shakespeare que seduz mais de 500 anos após a sua morte
E ainda treme os corações modernos que ainda são os mesmos.
Poema vivido em mirações para ser escrito eras a frente ou atrás!
Escrevo para você e todos se saciam, até que você me estenda a mão e nossos olhares se penetrem de novo!
Tua íris passante por entre infinitas molduras de odalisca, amante, velha, mãe, filha, irmão e homem...
Eu amo cada marca do teu rosto como se fosse o meu próprio corpo e minhas histórias, e é!
Eu sou o rosto que me feriu e hoje reaprendo a amá-lo: olhando-o todos os dias no espelho.
A polaridade covarde que experimentou o abandono e quer reinterpretar as despedidas.
Tomei o fôlego que, enamorado pelo violino, perdeu-se de si e não sabe mais se respira, assobia ou chora!
Escolhi o frio para relembrar o tremor do corpo que se sincroniza à castanhola faminta em transe!
A cada acorde proferiu palavrões, pois não achou algo tão próximo ao sagrado do que o profano ou o parto!
Morreu ao nascer e ao nascer morreu...
Morreu sem nascer e mesmo assim viveu tanto quanto o que vive aqui.
Me olhou nos olhos e me surpreendeu com sua figura frágil e feminina,
Ao dizer com firmeza de guerreira: “Você é livre! Liberte-se!”
Minha única prisão fui eu mesmo e as minhas escolhas…
Escolhi você e não te segui, sigo amando-me até o próximo reencontro…
Escolhi a mim e me perdi por medo, até que me aches e o destino nos sincronize pelo amor.
É miragem? Agradeço-te miragem, pois teu efeito é tal qual o real ainda que retarde a cura…
Agradeço a sede, ela esgarça a consciência que anseia ser tocada.
Anseia como a virgem ingênua que sentiu dor e prazer ao entregar-se e não soube se foi abuso ou amor…
Floresta percorrida que agora reconsidera se perdoa ou amaldiçoa sua cruel parte de si que a explora.
Ela passou pelo ódio, vingança, esterilizou-se e hoje reclama seu direito à ingenuidade e fertilidade!
Ocupa novamente o seu espaço pelos corações dos homens e das mulheres,
Rachando-lhes os asfaltos e concretos que os protegiam contra o amor...
Eu, homem, suspiro ofegante como a índia solene prestes a se atirar no abismo para salvar sua tribo da maldição.
“Não mais é preciso!”, recuo um passo: a lei do amor é amar primeiro a si e então ao próximo, neste modelo.
A frente do abismo, reluz a coroa e o coração da Virgem: chakras dourados do pinheiro mais alto!
Enquanto a raça humana expurga suas ambições e minhas vísceras acompanham-na…
Eu sou a promessa secreta de me render ao teu amor em silêncio e pensamento livre!
Eu sou quem partiu indiferente, recusou-te e te visita em sonhos e poemas…
Este calor que perpassa o sexo, o estômago e encontra um ninho em algum ponto cardíaco a ressoar junto ao universo,
Inspirações de amor que se reverberam em arte e natureza pura e nos convocam...
Vi o abuso que curou-se quando aprendeu a respeitar o tempo de cada um e o seu próprio:
O tempo de cada estação, cada órgão e músculo que se recusa,
A mente ou o coração que ainda se retém, até que encontre seus sins!
Mas também sou o ousado amor que desobedeceu as regras, seduziu, invadiu,
Floriu na improbabilidade e dissemina-se!
22/02/18 Roni Diniz