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Virginal Pinheiro (Poema)


Conta-me virginal Pinheiro

Sobre este manto de luz que se derrama desde o teu topo.

Conta-me como de tão longe, chamaste este coração que suspira,

Este olhar que somente alcança aonde o coração chegou primeiro...

Conta-me sobre tua espinha dorsal que inspira as torres, castelos e igrejas,

Sem jamais sequer se ofuscar diante da opulência humana!

Conta-me sobre teu fluxo rumo aos céus e a escultura em galhos e folhas

Por onde a tua seiva fluiu, esculpe e se expressa...

Conta-me sobre quão longas são tuas raízes,

Quantas sombras e abismos atravessas para ir tão alto,

E lá em terras recônditas e misteriosas,

Lá onde os rios fluem cristalinos e quase ilesos ao toque humano,

De lá brota o brilho que reluz a cada extremidade visível do teu corpo...

Me leva pela mão nesta dança entre tuas veias e poros...

Cada costela tua é também minha, é meu duplo…

Tua escoliose espelhada em minhas costas não é por acaso.

A cada beijo em ti é sobre minha própria pele onde mora o arrepio,

E cada violência contra ti é minha carne que lateja e se recolhe com medo...

Conta-me teu amor e medos em sussurros de batimentos cardíacos...

Revela-me a existência deste coração dourado que não vemos a olho nu,

Me ensina a humilde grandeza que desponta entre esta paisagem urbana,

Me ensina sobre tua paciência ao flertar pacientemente comigo por tanto tempo,

Me conta sobre os convites que deixaste sobre as mãos de tantas irmãs tuas...

Até que hoje, finalmente me tens e me deixas assim tão livre e sem apegos como tu és...

Para espalhar tua inspiração... Explica-me sobre este nó na garganta aqui...

Se ele é meu ou teu, se esta água que brota entre os meus olhos

É como a seiva cheirosa que verte por entre tuas fibras, mulher...

E assim tão suave quanto uma mãe me devolves ao chão

Desde as alturas dos teus seios, desde as entranhas de teu ventre,

Desde o canal sagrado de tua vagina em êxtase, sem saber se foi parto, sexo ou contemplação!

Me devolves à terra de homens, medos, militâncias e abusos...

Me devolves com a lembrança dos teus caminhos por dentro de ti e de mim,

Me devolves para contar a história que sempre esteve escrita dentro de nós,

Me devolves à terra que é e sempre foi toda uma só, o amor e a vingança,

Me devolves tendo ainda mais respeito às aves dos céus que vivem a tocar os teus dedos,

Que pousam sobre o chão trazendo teu "pólen" sob o risco de serem presos ou devorados,

Me devolves para te ver por entre os olhares, te sentir entre arrepios espinhais,

Abraços que liberam oxitocina, sabores que convidam os olhos a se fecharem,

Os gemidos a serem liberados sem pudor e o coração desperto ao silencioso agradecimento…

23/03/2018 "Virginal Pinheiro" de Roni Diniz

Virginal Pinheiro - Poema de Roni Diniz

Fotografia tirada no Bairro São Luis utilizando uma lente de zoom, após muitos dias de "diálogos" com a árvore.

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